sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Bananadas e o Crime

Numa noite, retornando para casa após um longo dia de estudos e trabalho,  ao entrar no ônibus me deparei com três figuras, que destoavam das pessoas que costumam estar no ônibus nessa hora; eram três adolescentes, dois meninos e uma menina, pobres, mal vestidos, não cheiravam bem, falavam alto, o português da rua. Os meninos de cerca de 18 anos, pareciam que tinham 15, pois eram magros e infantis, já a menina, desgastada, parecia ter mais de 20, mas não tinha.
O que me chamou atenção o suficiente para escrever sobre eles aqui, e pra eles continuarem a todo momento vindo a minha memória, foi a conversa entre eles; o português era ruim, mas a conversa foi clara, verdadeira, e me atingiu como um golpe de realidade. Eles falavam do seu dia a dia, diziam que os seguranças dos trens, metrô e afins não os deixava vender "a bananada", que diziam que tinham câmeras, e eles não podiam estar ali; um deles disse que naquela semana já tinha tomado três "duras", e que ele ficava "bolado", porque afinal só tinha "as bananadas" na mochila dele. Ele queria trabalhar honestamente, mas ninguém acreditava, ninguém permitia, ninguém respeitava, então ele disse: "Si eu tivessi robando já tava com mil conto no bolsu, num ia tá desse jeito, mas sô homi honesto, num vo me meter nisso não, mas é sacanagem o que eles (os policiais e seguranças) fazem ca gente". O segundo jovem disse que se eles estivessem roubando, não estariam passando fome, e o primeiro jovem, o mais falante, contou que a mãe dele fazia um pedaço de carne durar "o almoçu de um dia, a janta do dia, o almoçu do otro dia, a janta do utro dia, e ainda sobra um tantinho pro almoço do otro dia", que a coroa era braba, mas se não fosse, não teriam comida pra "quase" todos os dias.

Essa é a história, dos meninos que tentavam vender bananadas para comprar carne, e suas mães tentando fazer durá-las mais do que a fome. Torço pra que esses meninos continuem tentando conseguir dinheiro de forma honesta, sem se envolverem com o tráfico, ou outros crimes, mas se eles começarem a roubar, eu entenderia, afinal, eu tenho comida todos os dias e não suportaria ver minha família passando fome, mas eu, sou aceita pela sociedade, consigo um emprego pra evitar a fome, sem precisar me criminalizar, mas, e eles?

Pensem nisso, e vejam a marginalidade com outros olhos,
Não tenham medo deles, eles são crianças que não aprenderam a viver uma vida de verdade.
Nós temos o poder sobre nossas vidas, e sobre a vida deles também, porque nós temos o que eles não têm e podermos dar isso a eles enquanto eles ainda querem ser honestos.
Depois deles perderem a honestidade, eles viram notícia nos jornais, e perdem a humanidade.


Paz para o Rio de Janeiro, futuro para todos os jovens.


Ps: Torço muito para que a Polícia Pacificadora promova um novo começo na vida de muitas crianças.